Quantas vezes a frase “faça aos outros o que gostaria que fizessem a você” não foi usada para demonstrar como deveria ser nossa cortesia em relação a outrem? Essa frase clássica é conhecida como a “regra de ouro”.
Foi no meu processo de investigação para desenvolvimento do artigo científico sobre empatia nas relações corporativas que fui apresentada à regra de prata: faça aos outros o que eles gostariam que fizesse a eles. Grande diferença!
Então, antes de saber se você está disposto a calçar o sapato alheio é melhor se perguntar: consigo abrir mão dos meus julgamentos para me colocar no lugar de outra pessoa? Toda vez que nos convidam a tentar calçar o sapado dos outros, como exercício da nossa empatia, precisamos saber que aquele sapato não nos pertence e encará-lo realmente como se vivêssemos a vida de outro personagem. Quais seu sistema de crenças, sua cultura, seu modo de vida, seus valores? É uma viagem para dentro de alguém. E pra que isso aconteça de maneira plena é preciso um tanto de generosidade. De fato, esse exercício é mais fácil quando tentamos nos colocar no lugar de uma pessoa querida, alguém com quem tenhamos vínculo afetivo ou alguém que esteja passando por uma situação que já vivenciamos do que com alguém que tenhamos diferenças ou uma pessoa do outro lado do mundo com quem nunca tivemos contato.
Para perceber essa diferença basta fazer um exercício: feche os olhos por um instante e tente se conectar com uma pessoa querida. Pense como ela se sentiria se estivesse passando frio por exemplo. Agora imagine uma pessoa que você conhece mas que não tem muito contato passando pela mesma situação. Tente agora uma pessoa com quem você tem dificuldades de relacionamento. As três, sentindo frio, qual delas você consegue sentir mais presente a sensação e imaginar o que está lhe passando pela cabeça, quais são suas dores e suas preocupações?
Pesquisas feitas com animais demonstraram também que o sentido mais sensível à manifestação empática é a visão. Ao vermos alguém, podemos nos conectar melhor com suas emoções do que apenas ouvindo, por exemplo.
A empatia é um tema muito sedutor. Ela não é uma emoção mas um comportamento causado pelas emoções. E não significa a sensação de piedade ou compaixão. É possível ter empatia por alguém que sente raiva, ou entrar em euforia com alguém explodindo de alegria. Posso ter empatia por uma pessoa que tem o pensamento completamente contrário ao meu e, inclusive, não concordar com ele, mas entender exatamente aquela pessoa e sua atitude dentro da sua visão de mundo.
Paul Ekman define 3 formas de empatia: na empatia cognitiva identificamos o que o outro sente, na empatia emocional sentimos, de fato, o que o outro está sentindo. Já na empatia compassiva, queremos ajudar o outro a lidar com sua situação e com suas emoções. Quando alguém utiliza a empatia cognitiva, sem nenhum envolvimento emocional, pode significar que quer apenas tirar algum proveito da fragilidade de seu interlocutor.
No artigo que dissertei identifiquei que os humanos manifestam empatia com os colegas em um ambiente cooperativo, mas mostram-se insensíveis em relação aos competidores. Quando somos tratados com hostilidade, demonstramos o contrário de empatia.
No mundo corporativo, por anos influenciado por uma interpretação simplista do pensamento evolucionista afirmando que este pregava apenas a relevância do mais forte, o mais inteligente, a era da empatia veio para esclarecer que a adaptação social e o relacionamento também são essenciais para a sobrevivência.
Estamos fazendo a transição para o homo empathicus, que já havia sido percebido por Adam Smith (sim o mesmo autor de A Mão Invisível). Ele dizia: “por mais egoísta que se suponha o homem, evidentemente, há alguns princípios em sua natureza que o fazem interessar-se pela sorte dos outros e considerar a felicidade deles necessária para si mesmo, ainda que nada extraia dela senão o prazer de contemplá-la”.
Se colocar no lugar do outro com entrega e generosidade é um exercício. Bem difícil de se fazer de maneira inicial e sem julgamentos . Mas como qualquer exercício, precisa de prática para ser aprimorado.
Tente fazer uma viagem para dentro do universo de alguém, pelo menos uma vez por dia. Você vai se surpreender com as transformações que isso pode trazer a tua sensibilidade e compreensão. E além disso você leva de brinde uma sensação de bem-estar que pode ser ainda mais benéfica à você do que ao dono sapato.