É de amizade que quero falar

Sobre a Arte de Viver“, do filósofo Roman Krznaric, aborda, entre outros temas, os diferentes tipos de amor. Na Grécia antiga, esse sentimento tão amplo não era limitado a um único padrão de manifestação. Achei a categorização libertadora e honesta, ajudando a liberar aquele “eu te amo” quando sentimos algo tão intenso por alguém que não é a pessoa com a qual temos um relacionamento afetivo, filhos, pais ou irmãos. São seis tipos, segundo o que o autor descreve. O amor philial é o tipo de amor que versa sobre a relação entre amigos.

Costumo dizer sempre “eu te amo” aos amigos pelos quais eu nutro esse sentimento. Alguns deles, com quem tive uma vivência muito intensa e importante, não estão fisicamente próximos. Minhas amigas de infância são um exemplo disso. E acho amizade de infância extremamente transparente. Talvez porque a relação tenha acontecido naquele momento da vida em que o ego ainda está querendo ser gente. Quem te conheceu criança, sabe das tuas raizes, de onde você veio, conhece tuas brincadeiras, tuas manias e todas as encrencas familiares que hoje você trata com o terapeuta ou na busca pelo autoconhecimento; sentiu teu chulé, participou do primeiro porre, sabe quem foi tua primeira paixão, te ajudou a estudar matemática, esteve com você na primeira balada, no primeiro show e ouviu os primeiros segredos que você ocultou da sua mãe.

Não adiante fazer pose, contar vantagem, dizer isso ou aquilo. Seu amigo de infância vai te olhar e saber, exatamente, se você é ou não é aquilo tudo que está tentando dizer. Também saberá reconhecer o quão legítimo você está sendo nas tuas novas escolhas, caso esteja diferente do que foi quando era criança.

E se quando vocês se encontrarem, mesmo tendo passado muito tempo sem se ver, souberem reconhecer a criança interna que  ainda habita seus corações, poderão sentir, exatamente, a inspiração que aquele amigo continua te gerando. Um reconhecimento que tem a mesma magia de quando vocês brincavam juntos, conversavam por horas as filosofias e angústias juvenis, ouviam música, estudavam, reclamavam da escola, compartilhavam sonhos românticos, ou simplesmente, não faziam nada. Mas sempre juntos.

Mesmo que a vida tenha dado os destinos que cabiam a cada um, quem abastece uma amizade de infância com cuidado e afeto sabe que não está só. A gente passa pelas mesmas fases juntos. A dos 15, 20, a dos 30, a dos 40 e todas as demais que virão. Deixamos de ser meninas, ganhamos uma profissão, casamos, viramos mães, amadurecemos, temos novas e outras questões sobre o mundo.

As dicas mudam de tema mas o apoio permanece. No início, a brincadeira do momento, depois, a música e a banda da moda, as influências estéticas e culturais. As dicas de viagem, de restaurante, o apoio às questões e aos desafios profissionais; a brincadeira séria de ser mãe de verdade e os primeiros cuidados com os filhos. Seu amigo de infância sempre tem muito para oferecer. E, incrivelmente, é sempre algo que tem a tua cara!

Esse final de semana, tive a oportunidade de reviver uma amizade assim. Menos de dois dias juntas, mas de uma forma muito especial. Me senti de novo a Stela lá de Toledo no Paraná, amiga da Alessandra Pancera. Que sorte a minha por ter amigas que gostem e participem dessa brincadeira maravilhosa de ser amigas pra sempre.

2 Comentários

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.