Perco coisas com muita frequência. Ou melhor, só esqueço onde deixo. No topo do ranking está o celular, depois os óculos de sol e em terceiro as chaves do carro ou as de casa. Qualquer coisa que carregue na mão. Pode ser em direção à porta quando passo no quarto das meninas para dar um beijo ou ao descer as escadas para pegar algo que lembrei de ter deixado na cozinha. “Ah, deixei meu óculos”. Quase que numa moeda de troca com São Longhuinho (o dos 3 pulinhos) largo as chaves para pegar o óculos. Pronto! Mais algo perdido. A vontade é a de cometer um autoestrangulamento quando dou de cara com a porta. Dá pra alcançar essa lógica? A pessoa larga uma coisa quando vai ao encontro da outra que havia esquecido anteriormente? Coisa pra gente evoluída.
Semanas atrás superei meu recorde: foi a a vez carteira. Estava em outra cidade e só me dei conta quando cheguei no pedágio. Fiz aquela manobra-tranca-trânsito-de-rodovia-dupla me estatelei na grade e pedi clemência dos 9,70 para ultrapassar as cancelas e seguir viagem. Assinei um recibinho, dei telefone e endereço e deitei o cabelo. Gente generosa, pensei. Se forem como eu vão esquecer de me cobrar. Mas na semana seguinte, passei ali e paguei.
Claro que essas situações me deixam constrangida. Raramente tenho problemas com meus compromissos profissionais ou prazos. Ficar apatetada correndo atrás de uma chave não deixa de ser um certo vexame. Aos poucos todo mundo foi se habituando e a minha fé no São Longuinho — que operou o milagre de me mostrar onde estavam 99,9% das coisas que larguei por ai — se tornou pública. Devo um templo de ouro pra ele.
Mas é chato, quase inadmissível. E ouvir os recadinhos — “coloca tudo no mesmo lugar que tu não esquece” — soa pra mim o mesmo que para uma criança que ouve a mãe dizendo “escova os dentes meu filho”.
Quando fui apresentada à Ayurveda, aprendi a ter um pouco mais de compaixão comigo. Ayurveda é uma ciência milenar indiana e que estuda saúde e comportamento baseado nos cinco elementos: ar, água, terra, fogo e éter. Eles são divididos em doshas: Vata (ar e éter), Pitta (fogo e água) e Kapha (terra e água). Cada um de nós têm, via de regra, dois desses doshas dominantes. Poucos tem os três de maneira mais equilibrada. Cada dosha influencia em características físicas e comportamentais. A hora que li a descrição do Vata e Pitta (que são meus doshas dominantes) foi uma revelação maior do que entender meu signo. Incrível como me enquadrei nas características. Um dosha Vata equilibrado geralmente tem aspectos ligados à criatividade e à arte mais aflorados. Mas em desequilíbrio deixam o “vatinha” muito avoado. Essa sou eu, quando estou fora da casinha.
O bom é saber que existem formas específicas para cada dosha voltar a se equilibrar. Tons de roupas que usamos, tipo de música, exercício físico, alimentação. O que dificulta é a incrível atração que cada dosha tem pelas coisas que potencializam o seu elemento. Por exemplo, um mais agitado prefere músicas mais dançantes, exercícios com maior vigor físico, quando deveria ser justamente o contrário: fazer uma prática mais tranquila, ouvir musicas relaxantes. Não quer dizer que cada dosha precisa obrigatoriamente só fazer aquilo que o mantém estabilizado. Precisa estar atento às características que demonstram o desequilíbrio do seu para usar os recursos que podem ajudá-lo. Pra mim, por exemplo andar de pés descalços depois de viajar por muito tempo de avião é bem importante.
Além de aumentar minha autotolerância aprendi a ser mais generosa com doshas iguais ou diferentes do meu, como um Pitta (que também sou) mais esquentado e explosivo, ou Kapha que é mais lento e tem outro ritmo para as coisas.
O que é reconfortante no conhecimento dos doshas é que aprendendo as características e os sinais de alerta de desequilíbrio podemos usar os recursos que estão ao nosso alcance para voltar ao prumo. Desequilíbrios mais acentuados levam a doenças. Na Índia, a medicida Ayuvédica é usada em hospitais e cada paciente é tratado com ervas, banhos e chás que buscam restabelecer os elementos do doente.
A primeira pessoa que ouvi falar sobre os doshas foi a Márcia de Luca. Além do site, que é bem bacana e vale uma espiada, tem alguns livros publicados sobre o assunto.
Faça o teste. Descubra seu dosha e me conte se você se encontrou ou não. Eu continuo perdendo coisas…
Tão bom quando temos consciência de nós mesmos, das nossas qualidades e dos nossos defeitos. É essa consciência que nos leva à evolução!
PS: tô tentando fazer o teste e não consigo 🙁
Laila querida, tenta de novo. Coloquei um novo link e no meu teste deu certo. Um beijo
Gosto disso: ser mais generosa e tolerante consigo. Confesso que demorei um pouco mais do que o necessário para me acostumar com teus “esquecidos” mas hoje já são razão pra eu encontrar um pouco de ti na minha casa quando já te fostes e me enternecer ao ver o mesmo hábito na minha afilhada como um doce ” igual a mãe “
Eu sei que os amigos sofrem! 😔 Obrigada pela pasciencia que tens comigo!! ❤️