WhatsApp Celestial

— Oi, como tu estás? Acordei hoje de manhã pensando em ti! A vida anda corrida, mas tô  louca pra tomar um café contigo e fazer uma “festa no closet” kkkkkkk… Só queria saber se tu estás bem e te dar um beijo. <3

Já fiz isso inúmeras vezes. Agenda apertada, sem tempo para telefonar ou “cometer” um encontro pessoal, a saída é um bom — e atual — WhatsApp.  São sempre tantas demandas… Difícil dar atenção a tudo, a todos. Alguns afastados geograficamente, outros pela montanha de afazeres diários.

Mas hoje, somente hoje, talvez eu ficasse feliz em ter que fazer uma atualização de aplicativo. Desde que fosse para ter um WhatsApp com upgrade celestial. Queria mandar uma mensagem eletrônica para Vanisse, minha amiga querida, que partiu há poucos dias. Um papo rápido, só aquela conversa pra aquietar meu coração. Diminuir a saudade, me certificar se está tudo bem. Se está gostando da nova fase, se conseguiu se adaptar, se tem alguém conhecido… Como será que é o ambiente? Será que está doendo ainda? Está conseguindo respirar?

Talvez a conversa não precisasse ser assim tão longa. Só uma resposta do tipo:

— Tá tudo bem amiga, fica tranquila.

Bah, seria tão bom!

Nem precisava ser aqueles áudios que eu adoro ainda ouvir. Contando o que tá fazendo, convidando pra alguma coisa. Contando um babado. Ou aquele check de look que eu sempre mandava pra ela. Foto na frente do espelho, de corpo inteiro:

— Que tu achas?

As respostas sempre eram uma análise não só sobre o look, mas sobre mim, meu perfil, o evento que eu estava indo. Uma consultoria de estilo amorosa e que sempre me transmitia muita confiança.

Enquanto essa atualização não chega, vou seguir revisitando nossas conversas, fingir que aconteceram agora há pouco. Vou rever seus comentários nos meus posts, reler os textos que ela escreveu no blog. Afinal pra que serve mesmo a tecnologia, né? Uma memória para nossa memória.

Algumas cenas, nos últimos tempos, fiz questão de fotografar na minha mente. Por exemplo, o dia em que fizemos um bolo juntas e, enquanto estava no forno, encostamos a cabeça no sofá, sentadas de ladinho, uma de frente para a outra, conversando olho no olho. Observei aquelas bochechas, sempre rosadas, a cor do olho vibrante, o cabelo ainda que ralinho continuava lindo. Ela era tão linda.

Antes disso, tenho a imagem de um dia em que foi lá em casa. Sentadinha comigo no jardim, perto do meu Buda, comendo um Burguer King e contando todas as providências e despachos que já tinha organizado para uma possível situação póstuma. Contava os fatos intercalando com as mordidas como se estivesse comentando sobre a organização de uma das tantas viagens que fez. Não era falta de sensibilidade, era uma visão prática. Uma mulher forte que, diante do desafio, fazia o que racionalmente precisava ser feito. Não paralisava pelo medo ou incertezas, disparava e resolvia o que tinha que ser resolvido.

A gente fez tanta coisa. A gente não fez tanta coisa que planejou.

Vou apertar bem meus olhinhos, pensar com muita firmeza, exercitar um poder de telepatia que não tenho e confiar que tu recebas essa mensagem virtual pedindo notícias. Espero receber uma resposta.

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