Foi o que a terapeuta disse em nosso último encontro. Relatava o quanto venho me sentindo bem, em paz. Uma sensação de gratidão mais presente; a apreciação de pequenos momentos: os dias frios e ensolarados, as cores da feira de rua, o passeio com a filha mais nova, a vontade da filha mais velha de continuar se aninhando na minha cama. Pequenos milagres da vida cotidiana.
Ainda que me sinta excepcionalmente bem, questionei sobre minha inquietação em realizar coisas. Agora, um pouco diferente do que já foi ali atrás, quando ficava angustiada, insatisfeita com os pequenos e lentos passos dados. Mesmo que hoje lide melhor com “cada coisa a seu tempo”, sigo naturalmente, com essa necessidade da ação. “És uma buscadora”, foi o que ela disse.
Não que isso seja algum mérito ou elogio, porque buscadores, no meu entendimento, estão sempre em busca. O risco da frustração ser continua é enorme. Então, como manter o equilíbrio quando o mundo exterior — a realidade que nos cerca — não favorece um ambiente para a serenidade existencial?
Lendo o artigo do Eugenio Mussak para a Vida Simples, acho que encontrei uma reflexão interessante. Eugenio analisa as tirinhas do Calvin, uma criança de 6 anos, e a sua relação com Haroldo, um tigre. Calvin, olhando para o felino estatelado no tapete da sala, comenta: “Eles não têm ambições nem motivação. Não conquistam e realizam coisa alguma. Como justificam sua existência?”
Para Calvin, é impossível aceitar essa condição de total relaxamento e despreocupação com a vida. Na sequência do texto, Eugenio faz um relato de como nós, como espécie, temos essa necessidade angustiante de discutirmos o sentido da vida. Um sentido que, segundo ele, evolui para siginificado, causa, até chegar no famoso propósito.
Sobreviver já é complexo, o que dirá tentar entender o significado disso tudo. Já me peguei nesse julgamento, olhando para pessoas mais passivas, tranquilas com a sua condição e sem ambição alguma. Como podem se contentar e não querer evoluir?
Olhe para minha pretenção! O que é evoluir, meus queridos? O que sei eu sobre aquela alma e suas necessidades nessa existência? O que sei eu dessa humanidade e tudo que ainda teremos que passar, para chegarmos a uma convivência entre nós, com o planeta e conosco mesmo, minimamente mais elegante?
Chegar a esta conclusão não significa que, para mim, um ser movido pela inquietude, a solução seja deitar na rede e esperar. Certamente não foi esse o papel que escolhi. Mas as dores, as decepções, que por vezes me entristecem, não estão relacionadas ao fazer mas, sim, a minha necessidade de controle sobre os resultados, ou de reconhecimento; continuar realizando sem desejar colher o que planto, sem esperar que as situações, as pessoas, o mundo a minha volta, correspondam a minhas expectativas e apreciar a jornada, muito mais que o destino é o desafio.
Quero continuar realizando, com entusiasmo e esperança de que é possível estimular e apoiar as pessoas, trazendo a possibilidade de construção de uma consciência mais elevada nas relações organizacionais e sociais e promover a colaboração e o relacionamento mais afetivo e justo.
Talvez, este objetivo exija determinação e força, mas espero transformar esse meu “ser buscador” em alguém que queira encerrar essa jornada, apenas, virando pó e sendo eternamente esquecida.